quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

De professora a atacante



Imagem: Pixabay

Aqui estou na terra dos Saltimbancos a pouco mais de um mês e devo confessar que estou muito feliz! Pra que ninguém estranhe, deixa eu explicar: ainda é meio difícil ser feliz aqui nesse lugar cheio de palavras enormes, de gente que acredita que muito banho estraga a pele e que brasileiro não pode ser professor de inglês. Mas estou conseguindo e muito facilmente, apesar das experiências estranhas que insistem em acontecer aqui em Bremen.

Uma delas, por exemplo, aconteceu logo depois de minha chegada. Optei por voltar para a universidade e para começar o curso tenho de provar que tenho um certo nível de proficiência em alemão, através de um exame de língua. No biggie, na minha profissão a gente se acostuma com essas coisas, então me matriculei num curso preparatório e tenho estudado bastante. Estou bem compromissada com isso, caí de cabeça nos estudos. Somos 8 no curso preparatório. Todos querendo um diploma alemão pra ter melhores chances no mercado de trabalho aqui, todos acadêmicos ou aspirantes a tal, inteligentes, bem vividos, mente abertas, internacionais. Assim se imagina, né? Mas foi aí mesmo neste curso preparatório onde eu vivi o primeiro momento estranho de Bremen em 2008.

Numa conversa com uma colega de curso, ela me pergunta de onde eu sou, o que faço, porque vim parar em Bremen. Conversa que mais parece um interrogatório, mas essa é “small talk” alemã. Mesmo minha colega sendo assim como eu, estrangeira aqui, tem certas coisas do local que se aprende rapidinho. Até aí tudo bem. Depois ela me pede licença pra contar uma piadinha que aparentemente ela ouve o tempo todo por aqui. Eu me arrependo de ter dado a tal licença e ela prossegue dizendo: "Por aqui existe um ditado que diz que todo mundo que vem do Caribe ou da América Latina sempre se diz ou engenheiro ou professor."Vocês podem me dizer o que vocês responderiam? Porque eu não soube o que dizer. Minha resposta foi apenas o básico sorriso amarelo, que nunca falha nesses momentos e nenhum comentário.

Fui pra casa remoendo essa estória, me sentindo injustiçada como pessoa, como profissional e como latina!!! Alguns acham que brasileiro, principalmente bem sucedido, no exterior, sempre provoca um certo ressentimento. Brasileiro afinal, nasceu pra jogar futebol e sambar. Eu que nunca fui passista de escola de samba e não sei nem de que lado fica o gol, insisto em dizer que sou professora quando me perguntam minha profissão. Se a teoria do ressentimento estiver certa, pelo menos isso esclarece o motivo pelo qual as pessoas sempre me interrogam depois de ouvirem isso. Sério mesmo. As cabeças alemães acostumadas com Goethe e Nietzsche parecem não entender como uma brasileira aprendeu inglês no Brasil, sem nunca ter morado em nenhum país de língua inglesa, feito universidade e começado a ensinar inglês. Eu cansei de tentar explicar. Devo começar a dizer que sou jogadora de futebol?

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