Acabei
de perceber que estou dividida entre dois mundos. É uma pena, mas ainda não
posso dizer que me sinto cem por cento em casa na Alemanha. Normal, afinal de
contas se adaptar a um novo país não é assim tão simples como a gente imagina.
Leva tempo, custa muita energia e algumas lágrimas. O problema é que estou
percebendo que ao poucos já não me sinto mais cem por cento em casa em Salvador
também. Fico observando minhas reações diferentes às coisas com as quais eu era
acostumada antes. Hoje o
trânsito me irrita, os relatos de violência me assustam, as comidas me dão dor
de barriga.
Se bem que peraí... As comidas me dão dor de barriga porque eu estou abusando. Estou comendo três ao invés de um acarajé, feijoada quase todo dia, carregando a mão na pimenta com absolutamente tudo. Claro que isso só podia dar em merda, literalmente. Mas pensar nas comidinhas de minha terra me faz lembrar de outras coisas boas daqui, coisas que me fazem voltar a me sentir em casa. Meus amigos, minha família, meu idioma, meu sotaque, minha música, meu Baêa. Minha Bahia. Pensando bem, isso aqui é minha casa sim e nunca vai deixar de ser.
Mas peraí de novo... Falar de tudo isso
estranhamente me remeteu de volta a Bremen e me fez lembrar das coisas que eu
tenho lá. Meu amor, minha casa, meu trabalho, meus estudos, meus outros amigos,
meus afilhadinhos, minhas Bruxas, minha Weizenbier geladinha com as
meninas no bar do vento, a primaveraverdinha e florida, o outono amarelinho com uma luz que parece vinda de
efeitos especiais de um filme, o
Bürgerpark logo ali do lado, minhas baratonas, a segurança de voltar pra
casa depois da farra e de só ter de me preocupar em achar o caminho de casa. É,
parece que Bremen também se estabeleceu como minha casa.
Sabe o que é que eu acho que aconteceu?
Nesse complicado processo de imigração parece que eu, que em alguns momentos me senti "homeless" passei a ser "homeful". De "despatriada" para
"multipatriada". Passei de perdida no mundo, pra estar com meus pés
firmes em duas culturas diferentes de países lindos e especiais, cada um de seu
jeito. Entre pessoas maravilhosas aqui e lá que contribuem para que eu seja um
ser humano em constante formação e cada vez melhor. Um pouco dividida sim, mas
entre muita coisa boa de dois continentes.
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