domingo, 8 de abril de 2012

O que é que a Bahia tem?



Será que alguém pode me esclarecer uma coisa? Qual o problema do Brasil com a Bahia? Peraí, não quero que esse texto dê a impressão errada, então deixa eu explicar como foi que eu cheguei até aqui. Nesses meus nove anos de Alemanha, conheci muito brasileiro, que assim como eu, resolveu ir experimentar a vida em terras Germânicas. Muitos desses compatriotas, foram verdadeiras bençãos em minha vida. Pessoas legais, sensíveis, bonitas de todas as formas que me ensinam muito sobre a vida e sobre o próprio Brasil.

Ao mesmo tempo já contei aqui no blog que também já tive muitos encontros estranhos com outros brasileiros. Eu classifico muitos desses encontros assim, porque infelizmente alguns conterrâneos não tem vergonha de se mostrar com toda sorte de preconceitos. Para piorar as coisas, muitos de nós brasileiros, tem mania de confundir bisbilhotice com simpatia e falta de se mancol com autenticidade. Por exemplo, tenho pavor a gente que fica insistindo quando a resposta da pergunta "Você tem filhos" é "não". "Porque não?" ,"Estão esperando o quê?", Você tem de se ligar porque você já passou dos trinta" são as minhas favoritas da lista das bisbilhotices disfarçadas de simpatia. No quesito da falta de semacol nada é mais impressionante do que ouvir de uma carioca dizer, depois de me ouvir falando alemão, que "assim que você abriu a boca eu já sabia que você era baiana. O sotaque de vocês é tão forte que vocês falam um alemão todo arrastado". "Ah tá!" Pensei cá com meus botões, "então é assim que se formam os sotaques? Obrigada senhora estudante de economia pela aula de linguística." Na moral, se você não sabe uma coisa, é sempre melhor calar a boca. 

E eu aproveito e pergunto: só baiano tem sotaque ao falar uma língua estrangeira? E se for assim, qual é o problema? O que faz as pessoas acreditarem que nosso sotaque é mais estranho do que o dos paulistas, goianos, mineiros, gaúchos ou catarinenses? Em nove anos de Alemanha, nunca ouvi nenhum falante nativo se incomodar com o sotaque de nenhum baiano por ser arrastado demais. Isso é realmente implicação de brasileiro com brasileiro.

Essa mania que o Brasil tem de pegar no pé de baiano tem me irritado bastante. Minha querida amiga Ângela, que já morou em vários cantos do Brasil, tem mil estórias pra contar de vários lugares onde morou, sobre essa implicância que o Brasil tem com a gente. Suas experiências com esse tipo de preconceito vão desde pessoas que fazem graça do seu sotaque até outras que acham que não há nada de errado em duvidar de sua capacidade profissional sem nunca ter realmente conhecido seu trabalho, só pelo fato de saber que ela é baiana.

Acho que estou muito incomodada com essa mania de brasileiro de esculhachar baiano porque sendo negra, nordestina, mulher e baiana acabo virando um prato cheio pros intolerantes e isso depois de um tempo fica chato pra caramba. De um em um os comentários preconceituosos vão enchendo o saco. E o meu já encheu a ponto de transbordar neste texto. Procuro não reclamar muito porque sei que minha situação ainda poderia ser pior: já imaginou se além de tudo isso eu ainda fosse lésbica, gorda, portadora de deficiência, idosa ou devota do candomblé? Aí é que tava ferrada mesmo...O mal é que tem gente por aí que jura que é legal, bacana, mente aberta, mas que vive falando coisas pouco críticas e o que é pior, estigmatizantes e limitadas.

Umas das coisas mais fantásticas do ser humano é a habilidade de filtrar nossos pensamentos antes deles virarem palavras. Sendo assim, porque não usar (bastante) esse dom? Muitas vezes guardar nosso comentários pra nós mesmos não é somente uma questão de educação e respeito ao próximo como também uma questão do mais puro bom senso. Estou cansada de gente achando tudo o que eu digo engraçado só por causa de meu sotaque. Gostaria muito de poder contar uma história pra um grupo de brasileiros e saber que eles estão de fato ouvindo o que eu estou dizendo e não anotando mentalmente cada som que eu produzo diferente e cada expressão que eles não conhecem pra ridicularizar depois. Queria ter o direito de dizer que estou cansada, porque sim, trabalho duro pra caramba, assim como todos na minha família e meus amigos ao meu redor, sem ter de ouvir alguma referência infame à preguiça, rede e água de coco.

Nós baianos temos muitos defeitos. Horríveis, irritantes, que dá vontade de bater em um ou sair gritando de raiva muitas vezes. Mas quer saber de uma? TODOS os brasileiros os tem e nem os que nos estigmatizam escapam dessa. Na moral viu, sem querer tirar onda, mas já tirando: O que muitos brasileiros percebem como abestalhação eu vejo como leveza, ondes eles enxergam falta de seriedade eu enxergo bom humor e simplicidade e onde eles ouvem uma intonação esquisita eu ouço música. Agora durmam com um barulho desses!

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