sábado, 27 de julho de 2013

Happy Birthday



Em 1980 Steve Wonder lançou o que acabaria se tornando a minha música de aniversário favorita. Quando penso no aniversário de alguma pessoa querida, é sempre essa musica que me vem à cabeça. Quando ela foi lançada eu era uma pequena peruinha de pouca idade e por isso não tinha noção que além de linda, essa música tem um significado muito especial. Hoje em dia, não só gosto da música, como me arrepio toda vez que escuto.

O feliz aniversário que Steve Wonder é pra Martin Luther King Jr., líder religioso e do movimento por igualdade racial nos Estados Unidos. Ele estava à frente da Marcha à Washington onde ele fez o discurso (I Have a Dream) que anos depois viraria mantra das aspirações sociais no mundo inteiro.  Em 1968 ele foi assassinado e desde então começaram a surgir campanhas pedindo um dia dedicado a sua homenagem.

Não me perguntem por que, mas no início os americanos resistiam em aceitar o feriado com o nome de Martin Luther King's Day. Aliás eu sei porque, mas deixa quieto por enquanto. O fato é que durante anos alguns estados comemoravam essa data apenas com o nome de Civil Rights Day. Várias campanhas prosseguiram tentando convencer as pessoas a adotar o feriado com o nome que ele tem hoje e essa música de Steve Wonder faz parte dessa campanha. Em 2000, finalmente o feriado passou a ser comemorado em todo os Estados Unidos com o nome do homenageado.



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dia da Mulher Afro- Latino-Amricana e Caribenha



Em 1992 o dia de hoje foi instituído pela ONU como o dia Internacional da Mulher Afro-Latino-Americana e Afro-Caribenha durante a primeira conferência de mulheres dessas etnias na República Dominicana. Sendo hoje também, meu aniversário, sei que a data me toca duplamente. Aproveito, portanto meu dia hoje pra refletir sobre o que é pra mim ser uma mulher negra latino americana.

Eu valorizo quem eu sou e minha história. Me orgulho de minha família e das dificuldades que algumas vezes enfrentamos pois reconheço que a forma como lidamos com essas situações complicadas modela nosso carater, nos dá força. Adoro o fato de saber que minha história é feita de vários pedacinhos de vários lugares da Europa, do Brasil e da Africa. No conjunto de fatores que fazem de mim quem eu sou, o que não falta é coisa para escolher e aprender, culinária pra experimentar, tradições pra conhecer, idiomas pra falar. Dentro de minha família, uma família só, o que não falta são cores diferentes de olhos e peles, texturas e cores diferentes de cabelos, formas diferentes de corpos. Isso é muito lindo, porque de repente é como se eu pudesse me identificar com o mundo todo.

Mas por mais orgulho que minha história me dê, ela também me traz muita  dor. Ser uma mulher negra latino americana infelizmente também significa que as pessoas às vezes se sentem incomodadas com minha presença, seja por não saberem como se comportar comigo e ficarem tensos porque querem parecer não racistas, ou por não desejarem minha presença mesmo e pronto. Significa que de vez em quando eu sou completamente ignorada em uma conversa. A minha história infelizmente também acaba fazendo com que muitas vezes eu seja a única em qualquer lugar que eu vá. A única negra do mestrado, a única negra no restaurante que não está trabalhando como babá, correndo atrás de uma criança que não é sua. É ser tratada como animal exótico, que pode ter bunda grande, ser sensual e saber dançar, mas causar estranheza quando digo que meu trabalho é com o cérebro. É ter de aguentar pessoas próximas insistirem que a discriminação que eu vivo na pele não é racismo, é qualquer outra coisa, que eu estou paranóica, exagerando, procurando cabelo em ovo. É crescer ouvindo pessoas na minha própria família dizerem que meu cabelo é ruim e feio e ser pressionada a vida inteira pra alisar, prender e domar meu piau, minha bucha, minha vassoura de palha.

Mas o 25 de Julho foi criado para ser um marco de luta e resistência. Assim como a data pede eu resisto a esteriótipos e questiono quem quer que queira me limitar. Quando tentam me calar eu faço mais barulho, quando tentam me  dominar eu esperneio e quanto mais luto, mais me fortaleço. Parabéns a todas as nós Negras, a todas nós Latino Americanas e todas as Caribenhas. Vamos fazer barulho em nosso dia. Apesar de tudo, a gente sempre supera e arrasa sempre!


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Do jeito que se veio ao mundo – parte 2



Hoje estava em casa de bobeira quando recebo uma mensagem de uma amiga: "Oi Cris, tô indo na praia depois do trabalho. Quer ir comigo? A praia é FKK, tá?" Pra quem não sabe, FKK é a abreviação de Freikörperkultur que traduzindo quer dizer Cultura do corpo livre ou naturismo.



Minha amiga se sentiu na obrigação de me explicar que tipo de praia seria, porque me conhece bem e sabe que apesar de não ser a pessoa mais pudica do universo, essa coisa de tirar a roupa por aí também não é exatamente minha cara. Amigo bom é assim: sabe exatamente que tipo de situação te limita e sabe como te ajudar a superar, então minha perceptiva amiga vai e me escreve que a gente podia ir pra praia normal, de biquini e sem essa pouca vergonha alemã.



Mas como minha personalidade anda fraquinha e como eu virei a maior vítima de minha própria filosofia de vida "quem tem amigo não se governa",  já comecei a ter pensamentos nudistas no meio do caminho. A sugestão portanto, veio rapidamente "vamos na praia nudista e você fica com a parte de baixo do biquini". Beleza, a pessoa está meio pelada ou meio vestida, tudo é uma questão de ponto de vista. 

 

Chegamos na praia, minha amiga já muito mais à vontade no ambiente do que eu, foi logo se despindo. Eu tirei a parte de cima e deitei rapidinho. De costas. E olhei ao redor pra perceber a reação geral. Nenhuma. Ok... Não sei o que eu estava esperando. Talvéz olhares de surpresa, recriminacão, tarados, sei lá, enfim, essas coisas que colocam nas nossas cabeças e com as quais a gente se acostuma por falta de opção quando se cresce em uma cultura muito machista que ensina os homens a se comportarem como predadores de mulheres e que ensina a gente a ter medo e vergonha do próprio corpo. Sei lá o que foi, só sei que minha amiga, foi logo entrar na água enquanto eu resolvi ficar um tempinho deitada na grama pra sondar o ambiente.



E o ambiente não poderia ter sido mais relaxado. Todo mundo peladão mais cada um curtindo a própria onda. Uns liam, tomavam cerveja, fumavam seus cigarros (ai que perigo!), conversavam com suas companhias, comiam, enfim... tudo como em uma praia normal, com a diferença que ninguém usava nada além de por vezes os óculos de sol. Outra coisa que percebi que faltava eram os olhares penetrantes e demasiados pra quem quer que seja. Resolvi entrar na onda e fui tirando tudo. Inclusive os óculos.



O lado bom da miopia é essse: tira-se os óculos e já não se pode enxergar direito o que se passa ao redor. Por mais que minha filosofia de tirar os óculos e fingir que o que eu não vejo não me vê, seja meio estranha, naquele contexto ela foi perfeita pra eu poder aproveitar o sol de corpo inteiro, sem me preocupar se haviam olhares, conhecidos, sei lá. Nadar sem roupa então, foi um sucesso! Se eu tivesse feito minha pesquisa antes de ir lá, já teria chegado tranquila porque saberia que na verdade o movimento FKK não vem de hoje e sua filosofia prega exatamente isso: a possibilidade de curtir e se integrar de forma mais natural possível com a natureza, sem se envergonhar do próprio corpo, mas sem ser necessário sexualizar a experiência também.



Ao descobrir isso comecei a perceber que essa estória de nudismo fazia cada vez mais sentido. Ainda não posso me dizer naturista de carteirinha, nem vou queimar todos os meus biquinis ainda, mas se o tempo continuar assim, não excluo a possibilidade de voltar lá outras vezes. Com óculos e sem roupa, é claro.



P.S. Em praia naturista não é permitido tirar foto. Então esse post fica sem imagem mesmo...


terça-feira, 23 de julho de 2013

Verão



Depois que passei meu primeiro verão aqui em Bremen percebi o quanto a gente lá no Brasil subestima o luxo que temos de morar em um país no qual se pode contar com o sol. Bremen tem um clima oceânico, o que significa que as temperaturas são sempre moderadas. Ou seja, nem o inverno nem o verão aqui são extremos. Essa moderação pode soar como coisa boa no papel, mas na prática é um saco. 

A sensação que a maioria tem é de que o inverno é interminável. Chove muito, tem muita garoa, o céu no geral é cinza e a temperatura nunca esquenta o bastante pra você sair de casa sem pelo menos cinco quilos de roupa (pra se acaso o tempo mudar). Os meses de inverno até a primavera se estendem de uma forma que parecem desafiar o calendário. As pessoas vão ficando impacientes, querendo e precisando ver o sol.

Deve ser por isso que quando o verão finalmente chega a galera pira um pouco por aqui. Quando o verão é dos bons, como este está sendo, se tem uma sucessão de dias, o mês inteirinho talvéz de temperaturas entre 20 e 30 graus e céu azul. Aqui em Bremen isso é uma raridade, uma coisa que acontece talvéz a cada dez anos (exagero), e por isso a cidade muda muito quando a estação muda.

A primeira diferença que eu noto é a presença de pessoas por toda parte. No inverno, se pode andar ruas e mais ruas e não se encontrar um só ser humano caminhando. Muitas partes da cidade ficam parecendo cidade fantasma. Uma cena dessas é difícil de se ver no verão. Nesta estação do ano é gente pra todo lado e o comportamento das pessoas também muda. Elas sorriem mais, ficam mais comunicativas procurando papo com pessoas nas filas dos supermercados, dentro dos bondes e por aí vai. As pessoas se paqueram, coisa que eu demorei de perceber que acontecia por aqui.

Meu amor é da opinião que se a Alemanha tivesse tempo bom o ano todo, o país ia entrar em crise. Eu estou começando a achar que essa teoria faz sentido. As pessoas ficam tão mais leves e divertidas, dão um jeito pra sair mais cedo do trabalho e poder curtir o sol, bebem mais, ficam mais bêbadas também, inventam programas diferentes pra fazer. O churrasquinho no quintal ou jardim com os amigos é programa praticamente obrigatório. Tanto é que pra mim, hoje em dia, o cheiro de carne assando na brasa virou garantia de associação imediata com o verão da Alemanha. Pra quem nunca veio pra cá e está planejando conhecer, está é definitivamente a melhor época.

P.S. O verão europeu acontece durante o inverno Brasileiro. Ou seja, começa no calendário no dia 21 de junho e vai até 21 de agosto. Mas como expliquei aí no post isso é só formalidade de calendário. Na maioria das vezes o mês de junho ainda pode ser meio friozinho, apesar de ter dias mais longos e do céu ser mais claro, mais azul. Desde que vim morar aqui o que percebo é que o verão começa a esquentar mesmo a partir do final de julho e pode se manter quente até o final de setembro, quando na verdade já é oficialmente o outono.




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dia de Homem



Adoro o Facebook por mil motivos. Mas principalmente porque ele dá visibilidade internacional a falta do que fazer e a babaquice, dois conceitos dos quais eu sou fã de carteirinha. Na moral, se eu tivesse autoridade pra isso, lançaria um programa de graduação em todas as universidades mundiais sobre a babaquice. Aprendo tanto com ela que vocês nem tem noção. A falta do que fazer por sua vez, me proporciona a possibilidade de divulgar coisas fúteis por aí. E todos sabem que o mundo precisa muito disso né?

Pra celebrar esses dois conceitos maravilhosos, dos quais se pode usufruir tão pouco nesse mundo de meu deus, resolvi escrever esse post nada babaca pra celebrar o Dia do Homem, que por sinal soube que existe hoje através do Facebook, minha fonte principal de material da categoria "queporraéessa?".

Parabéns a nós sociedade linda, intelectualmente engajada e cheia de coisas a fazer por nos ocuparmos em criar uma data tão linda e significativa pra celebrar nem sei o quê. Um brinde com cerveja e coçando o saco que nem tenho, a vocês que tiveram tempo de pensar nisso. Parabéns! Só que não.

Racismo: também está quando você não vê - por Larissa Santiago



A notícia foi de cinco dias atrás, mas repreduzo mesmo assim porque ainda está me indignando. Colei abaixo o texto de Larissa Santiago. Leiam e pasmem...
A notícia de hoje (10/07/2013) do Jornal Tribuna Hoje informa que a UFMG instaurou um processo administrativo contra 198 estudantes da Faculdade de Direito que participaram, em 15 de maço desse ano, de um trote na mesma Faculdade.

O curioso é que nenhuma menção a racismo, preconceito ou nazismo foi utilizada na processo. Os 198  estudantes serão processados por comercialização e distribuição de bebida alcoólica.
 Isso mesmo, senhores! A comissão da sindicância formada por três professores da Faculdade de Direito e analisada pela Advocacia Geral da União elaboraram um documento em que NADA do que aconteceu é mencionado/relacionado à racismo ou crime de ódio.

Apagamento também é racismo: quando a sociedade tenta, em resposta a uma atitude racista, esquecer, apagar ou diluir a discussão sem dar voz as pessoas que foram e são vítimas e reconhecem o preconceito, ela também está sendo racista. Negar o fato e esquecer que o que aconteceu faz parte de um histórico de regime colonial, separando o Trote do seu contexto sócio-cultural também é racismo. Não se retratar, não admitir o erro ou reconhecer que existe na estrutura de qualquer e toda instituição ou pessoa resquícios de um passado escravista também é racismo.


O que a comunidade de mulheres negras quer saber é: até quando o protecionismo, o negacionismo e o falso mito de democracia racial reinará sobre a justiça e equidade?
Até quando mascarar as atitudes racistas arraigadas no cotidiano das Universidades e Instituições públicas vai fazer com que as feridas deixadas pela opressão se fechem?

Onde chegaremos enquanto o corporativismo mesquinho entre instituições públicas fazem questão de varrer para debaixo do tapete o lixo tóxico do preconceito e ódio racial que está mais que aparente naquele trote?

Não nos calaremos até que a resposta seja justa. Não deixaremos de falar até que a UFMG trate com seriedade e justiça o caso do último 15 de março.