Não sei dizer quando foi
exatamente que comecei a reconquistar a tranquilidade de me olhar no espelho,
mas sei que uma série de eventos e descobertas me levaram até isso. Acho que a
primeira luzinha se acendeu quando entendi que realmente não dá pra agradar a
todo mundo o tempo todo. As pessoas sempre vão ter alguma coisa pra dizer sobre
nossa aparência, quer a gente tenha perguntado ou não, e essas opiniões nem
sempre estão em concordância com o que pensamos de nós mesmos. Isso é fato.
Podemos até tentar embarcar nessa tarefa sem sentido, mas isso só vai criar
sofrimento.
Quem me ajudou a entender
isso foi meu cabelo. Teve uma época em que ele era tão criticado que eu vivia
no eterno estado de vergonha de mim mesma. Falava baixinho e viraria invisível
se pudesse. Na tentativa de me sentir aceita, resolvi alisar. Com o cabelo
alisado, teve gente me perguntando se eu tinha problemas com minha negritude e
dizendo que meu crespo antes era mais aceitável. Resolvi voltar a usá-lo
natural, e teve gente me perguntando por que eu não dava um relaxamento. A saga
de meu cabelo merece um post só pra ele. E foi ele quem um dia me fez encher o
saco e me olhar no espelho com todo carinho e paciência, querendo de fato
descobrir como EU gostava de usá-lo.
Descobri que definitivamente
era mais produtivo investir energia em tentar agradar a mim mesma. Eu realmente
me interesso por mim. O resto do mundo só fala porque não tem nada melhor pra
fazer. Quando entendi isso, me dei o direito de mudar de vez em quando, variar
meus penteados e me divertir comigo mesma. Parei de me preocupar tanto e até de
perguntar a opinião dos outros sobre a minha aparência. Passei a entender que
as pessoas têm direito de não gostar do que eu gosto e também têm o direito de
dizer o que pensam sobre mim. O que eu me esquecia antes é que eu também tenho
o direito de nem ligar.
Acho que foi mais ou menos
nessa mesma época que eu passei a notar que algumas amigas tinham dilemas
parecidos e lidavam com dores semelhantes. Bastava minhas amigas gordas
começarem a fazer alguma dieta para aparecer alguém opinando: “Ah, mas essa
dieta não é saudável. Porque você não faz dieta x, y, z?” Outras se vestiam de
uma determinada maneira e logo aparecia alguém pra dizer o quanto aquela blusa
as tinha engordado, o quanto aquela cor de cabelo as tinha envelhecido e uma
série de outras opiniões não solicitadas e invasivas.
À medida que eu ia ficando
mais convencida de que a única opinião que importa sobre minha aparência é a
minha, as pessoas compartilhavam menos suas opiniões sobre meu corpo, meu cabelo
e meu modo de me vestir. Talvez a minha nova autoconfiança de fato tenha me
deixado mais bonita, talvez eu tenha endurecido minha forma de reagir a
comentários e opiniões alheias e as pessoas andem com medo de me dizer que não
gostam do que veem quando olham para mim. Ou talvez nada tenha mudado e elas
continuem dizendo o que sempre disseram e eu simplesmente as escute com outra
consciência de mim mesma e, com isso, não esteja mais deixando essa opiniões
fazerem qualquer efeito em mim. Sei lá. Como eu disse antes, qualquer que seja
a teoria, estou feliz com minha imagem no espelho e sempre adoro minhas fotos:-).
Dentro desse processo, achei
importante também parar de fazer com os outros aquilo que não gostava que
fizessem comigo. Hoje eu evito fazer comentários sobre a aparência das pessoas
e, se eu falar qualquer coisa, faço questão de que seja positiva. Se eu não
tiver o que elogiar no visual de alguém, guardo meu comentário pra mim mesma. A
gente diz a uma pessoa que ela é gorda, que o cabelo dela é feio, que o estilo
dela é estranho e o que a gente ou essa pessoa ganha com isso? Muda alguma
coisa pra melhor? Faz você ou ela mais feliz? Com certeza não.
A gente muitas vezes se
esquece de que nossos comentários não são tão originais quanto parecem. Com
certeza, não fomos os primeiros a pensar ou a dizer algo sobre alguém e garanto
que, em 99% dos casos, as pessoas para as quais a gente acha que precisa dar um
toque já estão bem cientes da situação sem que a gente precise dizer qualquer
coisa. Gordo sabe que é gordo, quem tem cabelo crespo, cara oleosa, espinha no
rosto, cabelo sem corte idem. Elas provavelmente notaram
isso muito antes de você, logo, se você não é médic@, mãe ou pai da pessoa ou
responsável diret@ pela sua saúde e bem estar, guarde sua opinião negativa para você
ou pelo menos espere ser perguntad@. Não é tão difícil.
Acho que uma das últimas
fases desse processo de autoaceitação veio quando conheci meu marido e ele, de
uma forma muito especial, me relembrou que beleza, como quase tudo na vida, é
relativo. No início de nosso relacionamento, me surpreendia ao perceber que
nossos conceitos de beleza eram super desencontrados. Pessoas que eu achava
absolutamente comuns, ele achava maravilhosas, lindas e perfeitas. Depois, a
situação se invertia e eu estava impressionada com a beleza de pessoas que ele
achava apenas ok.
Beleza, em nossos tempos, é um conceito bem manipulado e conduzido. A gente é levado a achar o belo em
certas coisas escolhidas a dedo, no geral, com o intuito de vender alguma
coisa, mas a verdadeira beleza sempre esteve e sempre estará no nosso olhar.
Onde a gente quiser enxergar o belo, a gente enxerga e, como cada olhar é
único, cada beleza idem.
É isso que procuro exercitar
comigo mesma hoje em dia. Me olho no espelho e escolho me enxergar bonita. Olho
minhas fotos e me recuso a me concentrar em qualquer imperfeição. Não é que eu
esteja alucinando, não. Podem voltar um pouquinho no texto e percebam que eu
sei, sem que ninguém precise me dizer, quais são os aspectos de minha aparência
que não correspondem ao que querem promover como belo. É só que eu tenho
treinado meu olhar para procurar a beleza em primeiro lugar sempre, e quem
procura acha.
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Toda feliz e me achando linda:-) |