terça-feira, 17 de março de 2015

Até ver de novo



Querida Bremen, 

Já faz dezesseis anos que a gente se conhece e nossa amizade nunca foi tão forte. Ainda me lembro de quando nos vimos pela primeira vez. Você era fria, super distante e só me deixou ver muito pouco de você. O que você me mostrou, no entanto, já serviu para eu saber o quanto é especial.

Você é dona de um charme bem discreto. Na verdade, confesso que foi de repente que eu descobri seus maiores encantos. Hoje em dia sou uma fã incondicional de suas cores e não me canso de alardear sua beleza pra quem quiser ouvir (e muitas vezes pra quem não quer também).

Hoje em dia, entendo porque no início foi meio difícil me aproximar de seus filhos. Além de não conseguir me entender bem com eles logo de cara, por causa de nossa barreira linguística, grande parte deles é assim como você: precisam de um tempinho pra mostrar suas belas cores e se transformar em verdadeiros amigos

Você demorou a me abrir suas portas, mas quando finalmente me deixou entrar, foi logo me aceitando como parte de sua família. Hoje me orgulho de ser parte de você e te agradeço por ter me acolhido como filha.

De vez em quando vou visitar minha mãe Salvador, mas sempre volto pra você. Cada vez que volto e te vejo lá do alto, toda verdinha e cheia de quadradinhos como se marcados a régua, mal posso controlar o sorrisão que se estampa em meu rosto. Nossa última despedida me deixou com a sensação de nó na garganta e com o cantinho do olho ardendo, com uma lágrima que demorou a cair. Essa lágrima esperou até o avião levantar voo, eu olhar pela janela e me perceber entre as sempre presentes núvens do seu céu, que eu tantas vezes olho lá de baixo, me perguntando quando finalmente irão me deixar ver o sol.

Nessa hora me lembrei de quantas vezes pude passear pelas suas ruas, acompanhada somente por suas luzes, sem pressa e sem medo. Pensei no Schlachte cheio de pessoas sorridentes no verão, nas águas escuras do Weser, nas luzes mágicas do Bürgerpark no outono, nas suas cerejeiras floridas na primavera. Pensei em você e em todas as experiências que  você me proporciona, nos amigos que você me deu e percebi que está ficando cada vez mais difícil me despedir de você. Por essa razão, eu tomo emprestado uma forma de despedida que você entende bem e que já traz em si uma promessa de nos revermos um dia.

Minha querida Bremen, auf Wiedersehen.


Bremen Schlachte e as águas escuras do rio Weser
 

Querida Nina, obrigada pela revisão.:-)