Em 2013 um texto meu ganhou pouco
de atenção nas redes sociais depois de ter sido publicado no Blogueiras
Negras e pra minha surpresa, ter sido reproduzido pelo Geledés, Pragmatismo Político e outros sites. Desde então, vira e mexe ele reaparece por aí mas, depois de
uma série de críticas que andei recebendo em relação a ele, achei que já passou
da hora de eu tocar de novo no assunto e fazer alguns esclarecimentos. Então
vamos lá:
A primeira coisa que percebo ao reler esse
texto é o quanto minha visão das coisas era ingênua. Eu sei que eu dei bastante
sorte ao chegar aqui. Ao casar, a gente escolhe o(a) parceiro(a), mas recebe de
quebra uma verdadeira caixinha de surpresas recheada com os(as) amigos(as) e
parentes do (da) digníssimo (a). A minha caixinha de surpresas foi das
melhores.Sei que foi sorte e sou agradecida por isso.
O segundo momento que dei sorte, foi com meu
primeiro emprego aqui. Trabalhei em um lugar onde as pessoas tinham tido muitas
experiências com outras culturas e onde ter um histórico pessoal de imigração
era tido como uma coisa positiva. Ou seja, meu primeiro contato com a cultura
alemã me surpreendeu de forma muito positiva e por estar vivendo cercada de
pessoas inteligentes, reflexivas e de realidades culturalmente distintas, por muito
tempo eu vivi numa Alemanha de conto de fadas que não existe para a maioria.
Hoje eu sei que a cultura deste país é muito
diversa, mas que também é muito racista e arrogante. Eu sei também que as
histórias de racismo velado ou bem na cara, variam de acordo com uma série de
fatores, inclusive com a cidade ou região do país em que se vive (a mídia
relata muito mais casos de racismo na parte leste do país por exemplo, do que
aqui no oeste ou no norte), mas que pode-se sofrer discriminição em qualquer
lugar aqui. Eu precisaria de alguns textos pra conseguir listar as diversas
formas de preconceito que um ser humano pode enfrentar neste país. Esta lista
de absurdos vai desde o irritante racismo cordial, que muitas vezes até as
pessoas que o sofrem não conseguem enxergar, como quando um cara que estava
conversando normalmente com um mulher, de repente fica todo saidinho quando
descobre que ela é brasileira, até a maior brutalidade que acontece quando
skinnheads ateam fogo a abrigos de refugiados sírios. Sim, não sou cega. Posso ver
isso claramente mesmo de dentro da minha bolha.
Mas o que me levou a escrever aquele texto, ingênuo
pra época, desajeitado em algumas frases e meio inadequado pros dias de
hoje, foi o fato de me irritar com o incômodo seletivo das pessoas na minha
própria cultura. Me agonia muito quando volto ao Brasil e pessoas se mostram
tão preocupadas e curiosas com o racismo no exterior, mas que não se incomodam
nem um pouco com ele dentro do nosso país. Nunca tive direito a uma bolha
protetora crescendo em Salvador. Acho que por isso me encantei com a proteção
que encontrei no meu primeiro momento aqui.
À medida que o tempo foi passando comecei a
perceber que muitas situações que eu a princípio julgava serem exceções, eram
muito mais comuns do que eu imaginava. Hoje em dia penso que Brasil e Alemanha
tem muita coisa em comum no que diz respeito a racismo. Os dois países são
extremamente racistas, ambos insistem em negar que são e adoram criticar o dos
outros enquanto vivem negando o próprio.
Sempre soube que negar racismo é racismo também. Quando escrevi o texto, pudia ver isso muito bem no Brasil, mas como ainda estava em fase de lua-de-mel com meu novo país, na época acabei supervalorizando minhas experiências positivas aqui e via tudo de forma meio tendenciosa. Tudo era lindo e maravilhoso.
Sempre soube que negar racismo é racismo também. Quando escrevi o texto, pudia ver isso muito bem no Brasil, mas como ainda estava em fase de lua-de-mel com meu novo país, na época acabei supervalorizando minhas experiências positivas aqui e via tudo de forma meio tendenciosa. Tudo era lindo e maravilhoso.
Mesmo com todo encantamento inicial, isso também
não significa que eu passei 15 anos totalmente ignorante ao problema do racismo
e xenofobia desta cultura. Quem acompanha este blog há um tempinho, já deve ter
lido alguns textos nos quais eu relato experiências que deixam bem claro que
sempre soube que este país está longe de ser a terra mágica da tolerância e
aceitação entres os seres humanos.
A minha motivação ao escrever o “Lidando com o racismo” foi mais um desabafo baseado na minha experiência pessoal com esses dois mundos num momento de saco cheio de Brasil e encantamento com Alemanha, mas em momento algum prentendi generalizar minha percepção como sendo uma realidade de todas as pessoas negras vivendo aqui, até mesmo porque eu sei que o racismo não atinge todas as suas vítimas da mesma forma.
A minha motivação ao escrever o “Lidando com o racismo” foi mais um desabafo baseado na minha experiência pessoal com esses dois mundos num momento de saco cheio de Brasil e encantamento com Alemanha, mas em momento algum prentendi generalizar minha percepção como sendo uma realidade de todas as pessoas negras vivendo aqui, até mesmo porque eu sei que o racismo não atinge todas as suas vítimas da mesma forma.
São muitos os fatores que determinam como um(a)
preto(a) pode vir a sofrer discriminação. Entre eles estão o tom da pele, a
origem social, seu poder econômico, seu nivel de educação formal, o lugar onde
nasceu, o local onde se vive, seu tipo de cabelo e traços a forma como se
veste, sua orientação sexual, seu gênero... Não dá mesmo pra uma preta só falar
por todas. Nunca quis e nem quero fazer isso, por isso deixo aqui meus sinceros
pedidos de desculpas a todas as pessoas que se sentiram silenciadas e ofendidas
pelo meu texto. Realmente, não foi minha intenção falar por ninguém, só por mim
mesma. Ter recebido as críticas me fez repensar minha forma de
escrever e falar e isso é crescimento, então agradeço a todas (os) que
ajudaram. Queria muito, mas sei que não posso prometer que nunca mais vou pisar
na bola, portanto aqui fica apenas minha promessa de ficar mais atenta a como
escrevo.
Ahhhhh! E muito importante: um grande abraço e um muito obrigada a todos(as) que
conseguiram criticar o texto sem xingar nem ofender ninguém. Nos tempos de hoje isso é uma
arte e por isso saibam que a crítica de vocês foi super bem vinda e eu as guardei
com carinho no fundo do coração. E que venham outras desse tipo pra me fazer
crescer:-)
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