Em algum momento do nosso processo de emburrecimento,
a gente começou a achar a tarefa de ler uma aporrinhação desnecessária. Tudo se
tornou muito rápido e superficial, nossa tolerância com a palavra escrita não
vai além de duas frases e, com isso, qualquer texto com mais de um parágrafo
passou a ser chamado pejorativamente de textão.
No início, eu achava graça, mas, com o tempo, comecei
a perceber que eu sentia certo incômodo toda vez que via essa palavra por aí.
Me incomoda perceber que uma mistura de preguiça e má vontade faz a gente
escolher se distanciar de nossa “literacidade”,
o que nos faz perder muita coisa boa no processo.
Eu sou apaixonada pela palavra escrita. Eu sei que nem
sempre consigo tratá-la com o respeito que ela merece, com meus constantes
atentados à sua ortografia, acentuação, pontuação e por aí vai, mas eu adoro o
processo de tentar acertar com ela. Escrever requer paciência, é um momento
quase meditativo, um diálogo complexo com nossa própria mente. Nos obriga a
estudar, pensar com calma, reformular, ir e voltar. Escrever é relaxante, além
de ser uma ótima prática de crescimento pessoal em vários níveis.
Eu acompanho muitos vlogs e, com isso, aprendo, me
atualizo e me divirto bastante, mas nenhum deles até hoje conseguiu substituir
a palavra escrita – aqueles blogs clássicos que a gente tem de ler mesmo – de
forma alguma. Se pararmos para pensar direitinho, a habilidade de ler, que
adquirimos ainda muito pequenos, é uma coisa incrível: identificar as
propriedades de cada letra, o que elas, quando juntas, são capazes de fazer e
as surpresas que elas guardam em cada palavra. É um processo longo e complexo
que culmina em nossa habilidade de poder entender o sentido por trás de
símbolos desenhados em papel ou que aparecem nas telas de nossos computadores.
É uma pena termos chegado a um ponto em que nós não só
nem ligamos mais para essa maravilha de que somos capazes, como nos recusamos a
fazer uso dela. Eu acho isso um processo lindo, complexo e maravilhoso e, por
isso, me recuso a odiar textão ou a usar essa palavra com a nova conotação
negativa que adquiriu.
Textão para mim sempre foi e sempre será apenas um
texto grande. O que faz dele chato e insuportável de ler é um conjunto de
características que nada tem nada a ver com a extensão dele. Tendo dito isso,
existem textos grandes que são coesos, fluidos, lógicos e gostosos de ler. São
aqueles nos quais cada palavra faz sentido e é necessária. Textos longos, sim,
mas que vão modificando quem lê a cada linha. São textões em volume, extensão e
impacto. Isso é tão bom. Por que transformar isso em uma coisa negativa?
Revisado com muito carinho por Nina Hatty:-)
Revisado com muito carinho por Nina Hatty:-)
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